Ricardo Toscano Quarteto
Ricardo Toscano Quarteto
CD Clean Feed 2018

 

Já tardava este disco. De forma diferente de outros jovens músicos que começam a gravar muito cedo, Ricardo Toscano esperou pacientemente pela sua hora. Há muito que Toscano se tinha afirmado como um músico de excepção, fazendo-se notar pela agilidade num modelo claramente clássico que percorre toda a história do saxofone Jazz, mas que se fixa de forma privilegiada em John Coltrane, no universo temático, na abordagem do saxofone ou na própria forma – quarteto – que de certa forma replica. Nada a apontar, já que estamos a falar de um dos dois ou três mais importantes saxofonistas da história, e se é verdade que nos anos que se seguiram ao seu desaparecimento toda a gente queria tocar como Coltrane, por cá também, como sabe quem passava pelo Hot Club nos anos 70 e 80, e se pergunta haverá a fazer é porque ele (Toscano) apareceu tão tarde, porque nunca antes ninguém tocou assim em Portugal.

A forma como Toscano toca (recupera) Coltrane é por demais eloquente. Um saxofonista alto (Toscano) que toca como um tenor (Coltrane), com a veemência do mestre, sem preconceitos e com uma alegria tão sincera, apanhou toda a gente desprevenida, ultrapassando as escolas pela esquerda e os vanguardistas pela direita, impondo-se pela técnica e pela emoção, que claramente pertencem à música eterna de John Coltrane.

Se Ricardo Toscano é um dos ponta-de-lança de uma geração de jovens músicos que não tem precedentes na história do Jazz nacional, é curioso que ele tenha encontrado naquele quarteto de jovens os brothers in arms ideais, modelares no arrebatamento, na técnica, no gozo e no gosto pelos clássicos – entre Parker e Herbie Hancock, entre Wayne Shorter e Ornette, que exploram e vêm incluindo no seu repertório, e de certa forma replicando a posição dos membros do mais perfeito dos quartetos e combos de Trane, Elvin Jones, McCoy Tyner e Jimmy Garrison.

O primeiro disco de Ricardo Toscano já estava anunciado há muito, mas ele foi sendo adiado, e bem. Como o comprova este conjunto de cinco afrescos, a que acresceu um clássico de Herbie Hancock, «The Sorcerer».

E acertada também a escolha da editora. Gravando na Clean Feed, uma editora com muita visibilidade internacional, mas onde o Jazz escasseia, e menos o Jazz mais mainstream, Toscano assegura o aplauso dos «vanguardistas» (ao mesmo tempo que autoriza a editora a afirmar-se como uma editora «aberta»), sendo que a estreia de Ricardo Toscano merece o aplauso de todos os amantes do Jazz e é um dos acontecimentos do ano (2018) nacional.

Ricardo Toscano (sa)
João Pedro Coelho (p)
Romeu Tristão (ctb)
João Pereira (bat)